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  • Foto do escritorAdriana Leite

“Nossa missão é ajudar as empresas a atravessar o período de turbulência por meio da inovação"

Nova secretária de Desenvolvimento Econômico, Adriana Flosi, quer usar a vocação tecnológica de Campinas para impulsionar a economia. Só que o desafio dela no governo vai muito além da crise econômica provocada pela Covid-19.



A pandemia afeta de forma dura a economia em todo mundo. E é a hora da inovação e da ciência serem o alicerce para um novo cenário que impulsione o crescimento, acredita a nova secretária de Desenvolvimento Econômico de Campinas, Adriana Flosi. Ela aposta na vocação como polo tecnológico da cidade para garantir a atração de investimentos e o fortalecimento das empresas locais.


Adriana fala em desburocratizar a máquina pública, informatizar o sistema de abertura de empresas, reconstrução da economia no pós-pandemia , estimular a geração de postos de trabalho, promover crescimento com respeito ao meio ambiente e tornar a cidade a mais amigável para fazer negócio no Brasil.


A montanha a ser escalada é bem alta, mas os desafios já fazem parte da vida da empresária Adriana Flosi. Ainda jovem, saiu de Botucatu (SP). Estudou Artes Plásticas na PUC-Campinas. Ela é casada, mãe de três filhos e fez história ao ser a primeira mulher a chegar à presidência da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic) e de forma interina da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), onde depois foi vice-presidente.


Agora ela tem a missão de estar à frente da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, pasta que tem papel fundamental em alavancar a economia da cidade. Leia abaixo a entrevista com a nova secretária:



NE - Qual o seu diagnóstico inicial sobre as políticas públicas que o governo oferece para atrair empresas, gerar emprego e renda no Município?


Adriana Flosi - O diagnóstico, na verdade, é dos empreendedores, categoria na qual eu me incluo. A visão é de que Campinas tem potencial para tornar-se ainda mais atrativa e competitiva no cenário nacional. Apesar dos avanços conquistados graças à inovação para facilitar a abertura de negócios e reduzir a burocracia, o que ainda ouvimos do empresariado diz respeito a uma certa dificuldade para aprovar empreendimentos e viabilizar a abertura de empresas. Como já disse, Campinas tem potencial empreendedor. Em 2020, em plena pandemia do novo coronavírus, foram abertas 5.527 empresas. Tivemos encerramentos também, claro, na ordem de 3.800, mas o campineiro enxergou oportunidades na crise. O prefeito Dário tem propostas para olhar a máquina pública de outra forma, com possibilidades de reduzir IPTU e conceder incentivos fiscais, por exemplo.




O prefeito apresentou uma proposta inicial de desburocratização ao empresariado e ouvirá contribuições.

O nosso propósito é o de tornar Campinas a cidade mais amigável do Brasil para se fazer negócio. Vamos garantir maior agilidade na viabilização de aberturas de empresas e criar uma política fiscal justa e atrativa para o empreendedorismo.


Em 2019, ocupamos a 9ª posição no ranking Urban System, realizado pela revista Exame e melhorar esse índice é um dos pontos mais importantes da nossa gestão. Nós também olhamos com atenção para a Lei da Liberdade Econômica para que a gente tenha essa facilitação na abertura das empresas. Como é um tema que acompanho muito de perto, porque tive esse conhecimento nos últimos dois anos, quando estive na Jucesp como vice-presidente e também nos quatro anos que atuei como Vogal na autarquia, estou pessoalmente empenhada nessa questão, que é um desejo do empresariado.



NE - Quais os setores que serão focos da sua gestão e que podem se tornar base para uma economia mais dinâmica e já preparando a cidade para o futuro?


Adriana Flosi - Os focos são a Ciência, a Tecnologia e a Inovação. Campinas se destaca nessas áreas, tem toda a infraestrutura de conhecimento, com suas universidades, seus parques tecnológicos, suas empresas de base tecnológica. No momento, o que precisamos é de uma retomada econômica, e ela tem que vir impulsionada pela inovação, com uso de tecnologia, justamente por ser uma característica de Campinas.


Vamos olhar para o desenvolvimento econômico com o foco no conhecimento daquilo que já temos na nossa cidade, para levar inovação para os diferentes segmentos, de modo que eles possam se desenvolver.


NE - Como se tornar uma cidade mais amigável para os negócios, se a burocracia ainda é uma pedra no sapato para o empreendedor?


Adriana Flosi - É questão de gestão. Olhar como é feito o processo, mudá-lo e implementar sistemas informatizados. Em vez de ficar tramitando um monte de papel na Prefeitura, o ideal é ter esses processos com respostas automáticas. Por exemplo, na viabilidade para abertura de empresas. Temos um Plano Diretor, uma lei de uso e ocupação do solo, que é recente, e o que precisa é que essas regras estejam dentro de um sistema para que, quando o empreendedor acessar o Via Rápida para realizar a abertura de uma empresa, ele saiba se poderá empreender no lugar onde deseja.


O primeiro passo é justamente a viabilidade, se aquele CNAE pode ser aberto naquele endereço. Se já existe a regra do zoneamento no sistema, ele já emite a informação se é ou não permitido implantar a empresa naquela área.


No Brasil, tem apenas uma cidade que faz esse trâmite, de forma 100% automática, que é a cidade de São Paulo. Nossa ideia é trazer um sistema similar ou igual para que também essa resposta saia em segundos. A partir disso, o empreendedor vai entrar com o documento básico de entrada (DBE) na Receita Federal. Dessa forma, ele tem a empresa aberta em 24 horas e terá o CNPJ na mão.


As áreas de planejamento e urbanismo estão trabalhando nesse sentido. Para nós, o importante é que, quando o empresário vem e quer empreender em Campinas, ele tenha uma “sala de visita” pronta para recepcioná-lo. Assim como atrair empresas é ajudar a gerar empregos, amparar as empresas que já estão aqui instaladas também é fator preponderante para manter os empregos na cidade. A manutenção dos empregos faz a roda da economia girar.



NE - Quais os setores que mais vêm sofrendo com a pandemia?


Adriana Flosi - Principalmente Eventos e Turismo. E, como você sabe, Campinas tem uma forte vocação para o turismo de negócios, então, a cidade sofreu e está sofrendo bastante. Vimos alguns eventos como casamentos ocorrendo, mas com poucas pessoas. Os grandes eventos corporativos, culturais e de lazer não estão ocorrendo desde o anúncio da pandemia, em março passado. Toda a cadeia produtiva em torno desses dois segmentos está sendo bastante penalizada. Quanto mais verificamos o agravamento da pandemia e os negócios precisam permanecer fechados, mais pessoas acabam sendo dispensadas e isso vai, depois, sobrecarregar o município.


Para você ter uma ideia, o setor do turismo no Brasil perdeu R$ 51,5 bilhões em faturamento entre março e novembro de 2020, conforme dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio SP). Já a ausência de eventos, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc), gerou um prejuízo na ordem de R$200 bilhões à economia brasileira no ano passado.



NE - Quais as medidas que podem ser adotadas pelo município para minimizar o reflexo da crise sanitária?


Adriana Flosi - Do ponto de vista da economia, sofremos as consequências de uma pandemia, de uma questão de saúde pública diferente de tudo que já vivenciamos na história recente. Para mudar esse quadro é preciso, primeiro, termos a população vacinada.


O Plano SP de Retomada da Economia está baseado, fundamentalmente, no número de leitos de UTI para Covid que cada região paulista dispõe, além de outros como taxa de contágio, número de óbitos e de internações. Partindo dessa lógica, o ideal, por ora, ainda é dispor de mais leitos para garantir o atendimento à população. Quando há esse suporte na Saúde, as restrições impostas aos setores produtivos são menores. Não é necessário fechar loja, bar e não ficamos na Fase Vermelha, podendo progredir para a Laranja, a Amarela, e assim por diante.


Mas, volto a frisar, para voltar à vida normal, vamos precisar ter vacina e, ainda assim, teremos um caminho longo de retomada da economia.


NE - Campinas já teve instrumento de financiamento para fomento das empresas, que hoje seria um respiro diante de uma crise tão severa como a atual. É possível ter um banco municipal que ofereça crédito mais em conta?


Adriana Flosi - Na verdade, esse não é um papel que cabe ao município. Nós temos o Banco do Povo, que é uma parceria do governo do Estado com uma entidade de classe, no caso de Campinas, com a Associação Comercial (ACIC), e com funcionários do município. O Banco do Povo oferece microcrédito para quem quer começar um negócio. É direcionado ao microempreendedor individual.


Há também outras opções de crédito, provenientes do governo federal, por meio de recursos do Pronampe ( Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte). Por mais que o município possa pensar em formatar alguma alternativa para promover acesso ao crédito, nada superará a taxa de juros e os recursos que são do Pronampe.



NE - Os índices de desemprego sobem em todo o país, e Campinas também soma milhares de desempregados, quais as ações que você estuda para ajudar na geração de postos que consigam absorver pelo menos parte dessa mão de obra?


Adriana Flosi - Temos que atrair investimentos. Se você observar os números na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), tivemos abertura recorde de empresas nos meses de agosto, setembro e outubro de 2020. Foi o maior recorde de uma série histórica desde 1998 no Estado. Como disse anteriormente, as pessoas estão abrindo empresas, inclusive em Campinas. E não são microempreendedores individuais.


Na Junta abrem Eirelli e empresário individual, por exemplo. Isso mostra que as pessoas com potencial empreendedor estão buscando outros caminhos. Muitos setores foram prejudicados, mas outros segmentos cresceram. Estamos com um grupo internacional (Oxxo) que veio para Campinas para abrir 30 unidades, está satisfeito e já vendeu acima do que esperava.


Nós vamos olhar onde estão os “gargalos” para os empreendedores e avaliar de que forma, enquanto poder público municipal, podemos contribuir para reduzi-los.


Já estamos analisando facilitadores que existem em outras cidades para aplicá-los aqui. Que tipo de incentivo esses empreendedores têm? Será que não podemos oferecê-los aqui em Campinas também? É esse olhar que teremos para atrair e incentivar o empresário a se estabelecer. Se ele se estabelecer e o negócio vingar, ele vai gerar empregos.


NE - Como aliar desenvolvimento econômico, respeito ao meio ambiente e justiça social em um momento em que o mundo vive um acirramento entre discursos políticos que defendem modelos econômicos tão distintos?


Adriana Flosi - Campinas é uma metrópole, com as regras próprias, do País e do Estado. O governo federal tem feito um esforço enorme para desburocratizar, para ter um governo mais digital e isso podemos comprovar no Ministério da Economia, com a Lei da Liberdade Econômica. São oportunidades que precisamos aproveitar para impulsionar a geração de empresas e empregos. São 278 CNAES de baixo risco que podem abrir os negócios sem a necessidade de um alvará de funcionamento, mas que precisam atuar dentro dos regramentos das cidades. Podemos aplicar essas facilidades da Lei das Liberdade Econômica para impulsionar essas empresas.


O governo do Estado de São Paulo tem empenhado um esforço enorme para promover agilidade no quesito abertura de empresas. O Balcão Único, criado pelo governo do Estado, é um projeto no qual devemos nos espelhar, porque essa iniciativa vai promover uma melhora para o Brasil de 40 a 60 posições no ranking do Doing Business, colocando o País muito à frente no quesito abertura de empresas. Esse ranking global é publicado anualmente pelo Banco Mundial, que avalia as leis e as regulações que facilitam ou dificultam as atividades das empresas em 190 países.



NE - O país vive hoje uma falta de políticas econômicas efetivas que tirem o Brasil desse cenário de estagnação econômica. Como essa paralisia do Palácio do Planalto afeta regiões como Campinas?


Adriana Flosi - Tudo isso afeta o país, na medida que há um acirramento das relações entre os governos federal e estadual. A nossa expectativa é de que o governo federal continue mantendo o olhar de melhoria para o ambiente de negócios para atrair mais empresas, assim como faz o governo estadual e como fazemos no âmbito municipal.


Precisamos unir esforços.


NE - Você foi a primeira mulher a chegar à presidência da Acic, uma entidade centenária, o que representa na sua trajetória profissional, e mesmo pessoal, chegar ao cargo de secretária de Desenvolvimento Econômico de uma das maiores economias do país?


Adriana Flosi - É motivo de honra e orgulho ser a indicação técnica para ocupar o cargo, além de ser extremamente emblemático o fato de eu ter sido a primeira mulher anunciada para compor o primeiro escalão da Prefeitura. Obviamente, que o fato de a pasta ter uma afinidade enorme com a história que construí, tanto na Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), como na Associação Comercial e Industrial de Campinas (ACIC), na Câmara de Dirigentes Lojistas de Campinas (CDL) e na vice-presidência da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) foi fator determinante para que eu encarasse o desafio. E, particularmente na Jucesp, tive a oportunidade de trabalhar sob a liderança da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, a Patrícia Ellen, e de conduzirmos a transformação digital para trazer mais agilidade e eficiência na abertura de empresas no Estado de São Paulo, melhorando o posicionamento do Brasil no ranking do Doing Business.



Quem me conhece sabe que sou entusiasta do Pacto Global das Nações Unidas, que implementou os princípios de mais poder para as mulheres, então, vejo como altamente positivas as nomeações de cinco mulheres pelo prefeito Dário, para compor o seu secretariado. Temos a Maria Emilia de Arruda Faccioni, na Secretaria de Administração, a Vandecleya Elvira do Carmo Silva Moro, na Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, a Eliane Jocelaine Pereira, na Secretaria de Recursos Humanos e a Sandra Ciocci, na Cultura, além de outras que ocupam cargos estratégicos.



Cada vez que tenho a oportunidade de quebrar um paradigma, como ocorreu na CDL Campinas e na ACIC - instituições nas quais fui a primeira mulher a chegar à presidência - bem como na Junta Comercial do Estado de São Paulo, onde também fui a primeira mulher a ocupar a presidência da autarquia, interinamente, e posteriormente, a sua vice-presidência, sinto como se eu estivesse abrindo uma porta pela qual outras mulheres entrarão. É altamente gratificante.


Mas aceitar mais esse desafio foi uma decisão difícil porque, quando do convite, eu ainda estava à frente da vice-presidência da Jucesp e com inúmeros projetos iniciados. No entanto, eu não poderia deixar de atender ao chamamento do prefeito Dário porque é por meio da política que podemos mudar, de fato, o cenário e a vida das pessoas. E, neste caso, das empresas, melhorando o ambiente de negócios. Dessa forma, vejo como um presente poder atuar em prol do desenvolvimento da cidade onde moro desde 1980. Já sou cidadã campineira. Meus três filhos nasceram aqui.



Para realizar o meu trabalho, onde quer que seja, busco inspiração nos símbolos de Campinas. No seu brasão, por exemplo, consta que “é na virtude e no trabalho que a cidade floresce”. Em sua bandeira, há a fênix, que representa a força e é símbolo de recomeço e de esperança; e, em seu hino, há um trecho que diz: “progresso, progresso é a nossa divisa e a nossa conquista”. É assim que acredito que vamos vencer novamente, com muito trabalho por parte das autoridades, da sociedade civil organizada e do povo campineiro.


Como bem disse a secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Patricia Ellen, a palavra que mais apareceu em 2020 foi “luto”. Agora, precisamos transformá-la em “esperança”.


NE - Qual será a marca que a Adriana Flosi irá imprimir à frente da Secretaria?


Adriana Flosi - Nós estamos enfrentando e ainda enfrentaremos nos próximos anos grandes desafios por conta dos impactos da Covid-19 na economia e a nossa missão é ajudar as empresas a atravessar o período de turbulência por meio, principalmente, da inovação. Como expliquei anteriormente, essa é a marca que pretendemos deixar, a marca do diálogo com todos os setores econômicos, o foco na cooperação internacional, na ciência, tecnologia e inovação, no agronegócio, no turismo e em outros setores econômicos para que, juntos, tornemos Campinas a cidade mais amigável do Brasil para fazer negócio.

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