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  • Foto do escritorAdriana Leite

Juros exorbitantes no Brasil limitam crédito para empresas e pessoas físicas

Copom elevou a Selic – taxa básica da economia brasileira – para 11,75% ao ano, maior índice desde fevereiro de 2017


Armadilha financeira: antes de firmar qualquer operação de crédito analise os juros e as taxas para obter o dinheiro

Desde pequena, a comerciante Elizabeth Cristina Lima sonhava em ter o próprio negócio. Louca por roupas, ela começou a trabalhar ainda na adolescência na parte administrativa no escritório de uma grande empresa. Só que lá dentro dela mantinha o desejo de ter uma loja de roupas. Ela planejou durante anos ser “dona do próprio nariz”. Conseguiu em 2016, abrir as portas de um comércio de bairro. Mas logo ela percebeu que dependeria dos empréstimos bancários para fazer o negócio girar.


Como no Brasil o crédito é caro, e ainda há inúmeros encargos e taxas, logo os empréstimos viraram uma gigantesca bola de neve que não parava de rolar. A microempreendedora via as dívidas triplicarem em poucos meses e o jeito foi decretar a falência. Mas isso não significou o fim das dívidas. Ao contrário, foi só o começo do pesadelo que até hoje ela vive.


“Fechei a loja no final de 2019. No Brasil, é impossível você manter um negócio sem depender de crédito. E os bancos não são nada justos com os micro e pequenos empreendedores. As taxas são absurdas. Vi minhas dívidas triplicarem de uma hora para a outra. É impressionante como somos lesados por juros muito altos e pelo sistema bancário”, reclama Elizabeth Cristina Lima. Hoje ela vende produtos por catálogo.

A história de Elizabeth se soma a outras tantas que revelam uma realidade perversa de uma economia presa na amarga receita de aumentar juros cada vez que a inflação sobe. Com a disparada dos índices inflacionários nos dois últimos anos, e já no começo de 2022, as operações de crédito ficaram bem mais caras – pior ainda para quem ainda utiliza o limite do cheque especial, limite do rotativo do cartão de crédito ou depende de empréstimos bancários.


Pesquisa da Fundação Procon mostra que, antes do último aumento da Selic neste mês de março, a taxa média dos juros para o empréstimo pessoal era de 6,70% ao mês. Os juros do cheque especial chegavam a 7,96% ao mês. Estudo do começo de março do Banco Central mostra que as taxas de juros do rotativo do cartão de crédito variam de 7,78% ao ano até 1.056,84% ao ano. Imagine pagar mais de 1.000% de juros em uma dívida no cartão. Só que essa é a realidade no Brasil.



Crédito caro


O professor de Economia da PUC-Campinas, Roberto Brito de Carvalho, afirma que a elevação da Selic impacta, sobretudo, o orçamento das famílias mais carentes. “As pessoas que estão endividadas, tanto no cheque especial quanto no cartão de crédito, terão que pagar ainda mais juros porque as taxas vão subir muito. Estamos falando de mais de 60% das famílias com algum tipo de endividamento”, diz


Ele observa que boa parte dessas dívidas está atrelada à taxa básica da economia e são diretamente afetadas cada vez que os juros sobem. O especialista ressalta que as empresas também estão sofrendo com a elevação das taxas de juros. “As empresas também estão muito endividadas. Elas precisam de crédito que está cada vez mais caro”, analisa.

Carvalho discorda da política do Banco Central de aumentar a Selic para tentar frear a inflação. “No atual momento, a inflação está sendo gerada pela alta de custos e não pelo crescimento do consumo. O aumento de juros não é o melhor instrumento para conter a inflação. Normalmente, quando temos uma inflação de demanda, o instrumento de aumento da taxa de juros pode ajudar, mas nesse caso é pouco provável. Como se trata de uma inflação de custo, os preços continuarão subindo”, prevê.


Faça as contas


O professor da PUC-Campinas aconselha que os envidados avaliem trocar contas com juros mais altos por outras linhas de crédito que estejam com condições melhores. Não há juros baixos no Brasil atual, mas é possível encontrar saídas para pagar menos nas dívidas parceladas.


“Quem tem dívida no cartão de crédito ou cheque especial pode trocar por outro produto como um empréstimo pessoal ou um empréstimo consignado, que normalmente têm taxas de juros mais baratos. Se o consumidor já está em uma modalidade de crédito com juros em patamares mais baixos do que de outros produtos, a alternativa é recorrer à portabilidade do crédito. Dependendo de onde a pessoa tem conta, outros agentes financeiros podem ter condições melhores para oferecer a ela”, explica o especialista.

Mas ele faz um alerta importante: não observe apenas a taxa de juros na hora de trocar a modalidade de crédito. Veja também os encargos e taxas adicionais que serão pagas para fazer a troca. Ele exemplifica com o financiamento de um imóvel. Muitas vezes, para fazer a portabilidade para outro banco, é preciso pagar taxas cartoriais, emoluentes e taxas que acabam deixando o crédito mais caro.


A hora é de fazer as contas e buscar soluções que permitam sair do rolo compressor que o crédito caro brasileiro se transforma sobre o tão combalido orçamento doméstico. Planejamento do orçamento doméstico ajuda muito a entender os gastos, a enxergar quais são as receitas e fazer os ajustes necessários para garantir o pagamento das contas e, se possível, manter uma poupança.




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