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Foto do escritorAdriana Leite

Meu dinheiro virou cinza com o dragão da inflação

Atualizado: 8 de abr. de 2022

A luta contra esse monstro impiedoso exige planejamento e muita pesquisa de preços

Prato indigesto: até a alface está tão cara que o jeito é deixá-la fora do carrinho

Começo o meu texto pensando nas famílias que vivem com um salário mínimo no Brasil ou dependem de recursos de programas públicos de assistência. Se eu que ainda consigo me manter, minimamente, venho sofrendo com a situação econômica no Brasil, imagino quem pouco tem para sobreviver.


Meu dinheiro vem virando cinzas queimado pelo fogo dessa inflação que já me fez cortar vários itens do meu carrinho de compras, deixar sonhos engavetados e, ainda assim, não sobra nada no final do mês. E olha que eu trabalho duro.


Eu vivi, ainda como adolescente e entrando na minha vida adulta, os tempos das terríveis maquininhas de remarcação de preços que trabalhavam freneticamente nas lojas e supermercados durante o dia todo.


Comecei a trabalhar com 15 anos lá em 1986. Meu salário era, praticamente, entregue todinho para a minha mãe. Assim como a minha irmã Ana Cristina, eu trabalhava e ajudava em casa. Ficava pouco no meu bolso, mas eu usava para coisas do dia a dia de uma adolescente de 15 anos.


Minha gente, como era duro pelear com a inflação naquela época. Me vejo, de novo, nessa briga sem fim com um “monstro” voraz, veloz e que destrói tudo o que vê pela frente. Mas visto a minha capa de coragem, planejamento e muita pesquisa de preços para vencer algumas batalhas. A guerra sei que é bem difícil vencer.


Sou quase vegana – sim, quase, porque ainda como comidinhas na casa da minha mãe que têm leite de origem animal na receita – e minha alimentação tem como base verduras, legumes, grãos, cereais e frutas. Há um bom tempo com R$ 100,00 dava para comer durante um mês - lembrando que moramos, apenas, eu e meus gatos no apartamento.


Na semana passada, fui no varejão e no Mercado Municipal de Campinas e com os mesmos R$ 100,00 mal consegui comprar tudo o que eu precisava de alimentos para a semana. E não pensem que sou cozinheira gourmet. Sou daquelas bem raiz mesmo que gosta de um arroz, feijão, um quiabo refogado, uma salada de alface com tomate e uma boa fatia de melancia de sobremesa.


Comprei apenas cinco tomates e custou R$ 15,00. A alface mais barata estava R$ 5,00 o pé. Assim como a assistente financeiro Maria de Fátima Silva, que conversou comigo sobre custo de vida e sua entrevista está na reportagem Brasileiro sente o peso da alta do custo de vida, vi um pé de alface em oferta por – pasmem – quase R$ 7,00.


Poderia ficar aqui discorrendo sobre os motivos dessa inflação, a tristeza do desemprego e dos salários cada dia mais baixos, a crise econômica no Brasil, a Guerra na Ucrânia que afeta as importações de grãos e de fertilizantes, as mudanças climáticas que trazem prejuízos para as culturas, o crescimento pífio da economia brasileira já faz bastante tempo, a falta de uma política econômica, e tantos outros problemas.


Só que hoje é sábado e eu preciso sair caçando oferta aqui e ali para conseguir ter comida boa na mesa e que caiba no meu orçamento doméstico. Nesta guerra contra a inflação, cada centavo economizado vale muito. Planejo meus gastos semanais com alimentação, transporte, moradia, os cuidados com os meus pets, minha saúde, minha família, minhas plantas e por aí vai. E não está fácil me manter longe do endividamento.


Nesta luta, eu estou vestida com as roupas e as armas de Jorge contra o dragão da inflação.


E, você, quais as suas armas contra esse “monstro”?




Adriana Leite é jornalista e gestora de Conteúdo do Notas Econômicas.

Saiba mais sobre o colunista na página Sobre



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