Seo Laerte, como era carinhosamente chamado, comandou por quase 30 anos o Departamento de Economia da Associação Comercial e industrial de Campinas (Acic)
Neste domingo frio e de céu azul em Campinas (SP), faleceu um dos economistas que mais conheciam o comércio da cidade e que também foi um grande professor para quem queria entender melhor a economia da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Laerte Martins, de 82 anos, carinhosamente chamado de Seo Laerte, morreu pela manhã, depois de quase um mês internado no Hospital Madre Theodora, em decorrência da Covid-19.
Sempre com um jeito calmo, sorriso no rosto e paciência, Seo Laerte tinha em cima da mesa planilhas, cálculos e os rabiscos em uma folha de papel para mostrar o potencial da economia de Campinas e, especialmente, do setor do comércio. Lá da sala dele, instalada no prédio da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), na região central, ele comandou, por quase 30 anos, o Departamento de Economia da centenária entidade.
Lembro da primeira vez que fui até a sala dele e me deparei com um senhor de olhar tranquilo, mesa de madeira cheia de papeis, calculadora científica do lado de folhas rabiscadas, uma lapiseira de ponta fina na mão e com a querida Márcia Farah por perto, fiel assistente dele, que digitava as contas todas no computador e traduzia para jovens jornalistas como eu a complexidade dos números que saiam dos estudos do economista. Isso já faz muito tempo.
Seo Laerte avaliava comércio, emprego, desemprego, PIB, juros, contas públicas e mais dados que, muitas vezes, procurávamos em várias fontes ou órgãos e não conseguíamos. Quantas vezes recorri a ele que, generosamente, me ajudava com análises que se transformavam em grandes reportagens. Por meio da bondade - e muita paciência - daquele economista que já tinha um nome no mercado e era um grande professor, aprendi muito de economia quando comecei minha trajetória no jornalismo.
Falava tanto com ele que nos tornamos amigos. Quantas vezes, eu ligava na casa dele à noite, e quem geralmente atendia era Dona Selma (esposa do Seo Laerte), para pedir socorro no fechamento de algum texto que faltava aquele dado mais preciso que só ele conseguiria me ajudar a conseguir. Claro que era sempre na correria e com um chefe no meu pé querendo a manchete do dia seguinte.
Seo Laerte atendia com atenção, me ajudava e ainda dizia que se tivesse dúvida poderia voltar a ligar a qualquer hora. Como confiávamos um no outro, eu tinha o telefone da casa dele, celular dele, e ele me deu até o telefone de um local onde ficaria durante uma viagem de férias aos Estados Unidos após deixar pronto um estudo para uma reportagem especial que eu ainda iria fazer sobre um raio-X do varejo na Região Metropolitana de Campinas (RMC).
Nas nossas entrevistas falávamos muito de economia, mas também de política, de futebol, das notícias da mídia, de filmes e outras coisas mais. Ele e a Marcinha se transformaram em amigos queridos com os quais compartilhei muito do meu dia a dia e da minha vida. Até durante o meu tratamento contra o câncer lá estavam os dois me ligando para saber como eu estava, já que não podia ir mais pessoalmente nas entrevistas coletivas de apresentação de dados da Acic ou em eventos.
No meio do meu tratamento, Seo Laerte perdeu a esposa de uma hora para outra também para o câncer. Senti a dor dele como se fosse a minha, já que ainda estava lutando para me curar e o desafio sempre é imenso quando temos que enfrentar uma batalha como essa. Além disso, Dona Selma sempre foi muito gentil comigo, mesmo sendo eu uma repórter "folgada" que ligava para ele fora do horário de trabalho.
Mesmo depois de sair do jornalismo de redação, mantive contato com Seo Laerte e a Marcinha. Mas com a pandemia não consegui ir visitá-los mais. Há pelo menos dois anos estávamos marcando um cafezinho ou um almoço. Falei com a Marcinha no começo de junho deste ano e ficamos de agendar com ele sem falta até julho. Não deu tempo.
Fica aqui a MINHA IMENSA GRATIDÃO AO QUERIDO SEO LAERTE! Mais do que um grande economista, Seo Laerte foi um ser humano gigante e generoso.
Exemplo de profissionalismo e generosidade
Márcia Farah, que trabalhou ao lado de Seo Laerte por 28 anos, lembra como ele era um profissional incrível e ótimo ser humano. "Difícil colocar em palavras o que o Senhor Laerte representa para mim. Partiu o meu grande amigo. Por 28 anos, tive a honra de trabalhar com o Senhor Laerte Martins, que é um grande economista. No início, ele foi um mestre e uma referência de informações econômicas e estatísticas. Com o tempo, veio a admiração pelo profissionalismo, inteligência e visão de futuro, voz forte e segura. Naturalmente, somou-se isso a amizade que estabelecemos um com o outro. Falávamos sobre todos os assuntos: Política, Economia (claro), família, dores e alegrias. Ele era pura bondade e generosidade. Uma pessoa de bom senso e calma cativantes. Difícil a sua partida. Sempre ficará em minha mente e coração, cada dia de ensinamento e amizade. E, também, a inevitável saudade já se faz presente", diz Marcinha.
Nota da Acic
É com imenso pesar que informamos o falecimento neste domingo do economista Laerte Martins, aos 82 anos. Em nome de toda a comunidade da Associação Comercial e Industrial de Campinas prestamos condolências à sua família neste momento de tanta dor. O economista morreu em decorrência de complicações da Covid-19. Ele estava internado no Hospital Madre Theodora desde o último dia 7.
Laerte Martins era economista na Acic há 28 anos, sendo querido e reconhecido na cidade como um profissional extremamente dedicado à carreira. “O Laerte Martins era sinônimo de Acic. É inegável sua presença icônica e marcante na história da Associação e da nossa cidade, considerando as inúmeras vezes que esteve nos representando em entrevistas sobre os dados econômicos de Campinas e da região. Esse amigo querido nos deixou, mas fica seu legado de conhecimento econômico, sua generosidade e gentileza no trato com as pessoas, além da retidão e integridade de seu caráter. Deixa muitas saudades esse ser humano maravilhoso”, diz Adriana Flosi, presidente da Acic.
Currículo
O economista era graduado pela Faculdade de Ciências Econômicas da PUC-Campinas e pela School of Business University of Southern California. Ele também era diplomado pela Escola Superior de Guerra e estagiou no Departamento do Tesouro Americano.
Ao longo da carreira, Laerte Martins foi analista financeiro e de projetos, diretor financeiro e administrativo de empresas públicas e privadas nacionais e multinacionais. O economista atuou ainda como professor universitário de economia internacional e teoria econômica.
Despedida
O velório do economista será nesta segunda-feira (31 de julho), a partir das 8h, no Cemitério Flamboyant. O sepultamento será às 11h30. A despedida será aberta ao público.
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