Hora de arregaçar as mangas e fazer o planejamento financeiro de 2023
O Brasil tinha quase 70 milhões de pessoas com dívidas em atraso em setembro do ano passado, segundo a Serasa Experian. Os débitos somavam R$ 295,7 bilhões. Lógico que ninguém quer dever na praça. Mas a vida do brasileiro não anda fácil há muito tempo.
A inflação em alta corrói o dinheiro de todos nós. O IBGE divulgou que o IPCA (Índice de Preços Amplo ao Consumidor) fechou em 5,79% no ano de 2022 – acima do teto da meta que era de 3,5%. Entretanto, para quem vai na feira, no varejão ou no mercado, esse percentual parece multiplicado por 100.
Uma simples compra de poucos itens no supermercado não sai por menos de R$ 200,00. Quando pegamos o valor atual do salário mínimo de R$ 1.302,00 (pode chegar a R$ 1.320,00 conforme a PEC da Transição), isso representa 15,36% dele. Pesquisa do Dieese mostra que, em dezembro, o custo da cesta básica na cidade de São Paulo ficou em R$ 792,29. A variação anual foi de 14,60% (quase três vezes mais do que a inflação oficial).
Conforme o estudo do Dieese, o salário mínimo para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ser de R$ 6.647,63 no Brasil. Existe um abismo entre o ideal e o real no nosso país. Isso explica a desigualdade social e financeira que cresceu de forma vertiginosa nos últimos anos.
A tarefa de manter as contas em dia é, de fato, bem complicada em um cenário tão adverso de preços elevados, desemprego, salários achatados, perdas de direitos trabalhistas e juros estratosféricos. Não há matemática que consiga solucionar a equação entre as entradas e as saídas de dinheiro no bolso do brasileiro.
E começo de ano parece que o cenário é ainda pior: IPVA, IPTU, material escolar, a fatura bem gorda do cartão de crédito do Natal e os gastos com as festas de final de ano. A conta bancária é bombardeada por dívidas e mais dívidas que resultam em um fundo do poço sem fim.
O cenário econômico negativo afeta demais a renda e a capacidade de consumo das famílias. O descaso, a incompetência e a falta de políticas que gerassem empregos de qualidade e aumento da renda da população resultaram no empobrecimento do brasileiro de classe média e dos mais carentes – muitos já passaram da linha da pobreza extrema.
Difícil quem não enfrente a batalha de começar o ano com a conta no vermelho e cheio de compromissos obrigatórios para pagar. Se o seu caso é exatamente esse, observe bem o tamanho do rombo na sua conta. Hora de arregaçar as mangas e dar início a um planejamento financeiro que garanta dias mais tranquilos para a sua carteira e a sua cabeça.
Pegue uma caneta, caderno ou planilha no computador e escreva os seus ganhos e gastos. Coloque as contas de curto, médio e longo prazo. Descreva os gastos fixos, os gastos variáveis e deixa lá um lugarzinho para despesas de emergência. Muita gente esquece de deixar uma reserva para os momentos de aperto.
Claro que a maioria de nós nem deve ter recursos para esse fundo emergencial. Mas se hoje não há condições de criá-lo, um dos objetivos do planejamento é exatamente permitir que em um futuro muito breve você tenha dinheiro até para investir.
Colocar o quanto ganhamos com o quanto gastamos em um papel é assustador, principalmente se você ainda não faz isso, e uma grande lição de como enxergar a nossa realidade financeira. Saber lidar com nosso dinheiro é um fundamental para garantir a nossa sustentabilidade econômica e da nossa família.
Um ótimo exercício é fazer esse planejamento em família. Pode ter certeza que sempre tem onde cortar e várias pessoas pensando juntas poderão encontrar soluções mais criativas e eficientes.
Uma das primeiras missões do ano é pensar nas nossas finanças. O mais importante é dar o primeiro passo para ter um 2023 mais tranquilo e seguro no bolso. Tire um tempo agora para planejar e encontrar soluções.
Não tenha medo de olhar de frente para as suas dívidas. Encará-las é a melhor maneira de descobrir como quitá-las. Não deixe a sua vida financeira virar uma bola de neve sem fim. Enfrente inimigos como o limite do cheque especial, o cartão de crédito e o empréstimo bancário.
Se o país está ruim, temos que usar a nossa criatividade e inteligência para se manter bem até que dias melhores cheguem. E eles chegarão. Corre lá agora e pega caneta, caderno e calculadora. Vamos cuidar do nosso orçamento doméstico com carinho.
Feliz dindin no bolso e muita saúde para todos em 2023!
Adriana Leite e Silva é jornalista e gestora de Conteúdo do Notas Econômicas
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