A participação das exportações para os Estados Unidos subiu de 16% para 25% na balança comercial de Campinas entre 2019 e 2020. Por isso, é preciso olhar com atenção para a política externa do novo governo de Joe Biden.
Desde que foi instado ao poder, o presidente da República Jair Bolsonaro fez questão de mostrar que era aliado do governo de Donald Trump. A relação de amor, entretanto, não representou ganhos econômicos para o Brasil. O alinhamento ideológico era o que unia os dois governos. Com a chegada do democrata Joe Biden ao poder, neste ano, o cenário mudou bastante. E isso pode afetar as relações comerciais entre os dois países, principalmente no campo do agronegócio e na questão ambiental. Mas é bom ficar de olho nos desdobramentos que eventuais atritos possam trazer para outros segmentos, como indústria e prestação de serviços.
O coordenador do curso de Ciências Econômicas da Facamp, José Augusto Ruas, acredita que regiões industriais e com vocação tecnológica como Campinas não sofrerão tanto com a relação brasileira e os americanos. Para ele, o foco da disputa ficará mais no agronegócio, até porque Biden tem como uma das bandeiras de seu governo o desenvolvimento sustentável e o respeito às metas estabelecidas no Acordo de Paris para o clima. Mas Ruas alerta que é bom os empresários observarem de perto as conversas entre os dois governos.
“Os Estados Unidos não são nem amigos e nem inimigos do Brasil. Antes de mais nada, Biden, assim como todos os outros presidentes americanos, vai defender o interesse dos Estados Unidos. Vimos que a relação entre Trump e Bolsonaro não rendeu acordos comerciais ao Brasil que trouxessem vantagens ao nosso país. Com a mudança de governo, eu analiso que o maior problema para os setores econômicos brasileiros será para o agronegócio, que está muito vinculado com a conservação ambiental”, diz.
Para Ruas, as negociações comerciais que envolvam a agroindústria ficarão mais complicadas para o Brasil porque não serão apenas os EUA que irão cobrar medidas que preservem o meio ambiente.
“O cenário será ainda mais duro com os europeus, que terão, agora, o apoio também dos americanos. O governo Trump tinha o mesmo posicionamento ideológico do governo Bolsonaro sobre o meio ambiente. O Biden já recolocou os EUA no Acordo de Paris sobre o clima. Isso vai impactar na área agrícola. A imagem do Brasil lá fora hoje é de destruir florestas para plantar soja ou engordar gado”, afirma o economista.
Sobre o setor industrial, que é um dos pilares da economia de Campinas e região, o coordenador do curso de Ciências Econômicas da Facamp vê pouca chance de o novo governo americano impor sanções. Ele lembra que até 2007 o Brasil tinha um superávit médio de US$ 10 bilhões com os americanos na balança comercial. Mas o lado da balança foi invertido a partir de 2008, e hoje há um déficit na equação entre exportações e importações.
Nós e os norte-americanos
Em Campinas, a balança comercial com os EUA também é deficitária. Em 2020, o saldo ficou negativo em US$ 207,78 milhões. Mas é preciso ponderar que a participação das exportações das empresas da cidade com o mercado norte-americano passou de 16% para 25%, sobre o total do que foi vendido para outros países, de 2019 para 2020.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia mostram que as exportações para os Estados Unidos (em valores FOB) somaram US$ 179,31 milhões em 2020 e foram de US$ 402,17 milhões no ano anterior – queda de 55,41%. Contudo, elas representavam 16% do total de US$ 1,088 bilhão há dois anos e subiram para 25% dos US$ 711,80 milhões do ano passado.
Com a pandemia, o comércio exterior foi duramente afetado, assim como a atividade econômica interna. Os números da balança comercial de Campinas refletem os impactos da crise, que já vem de alguns anos e piorou com as consequências da emergência sanitária gerada pelo novo coronavírus. O déficit fechou em US$ 1,80 bilhão.
De acordo com as informações do governo federal, na balança comercial de Campinas, as exportações caíram 34,58%. Elas baixaram de US$ 1,088 bilhão em 2019 para US$ 711,80 milhões em 2020. As importações apresentaram um recuo de US$ 2,94 bilhões para US$ 2,51 bilhões (queda de 14,68%).
Bom, a relação do Brasil com os Estados Unidos é importante para garantir que produtos e serviços de Campinas e região continuem chegando, sem restrições e taxação, a um dos maiores mercados consumidores do mundo. Agora é torcer para que as questões ideológicas saiam de cena e que o debate seja pautado pela racionalidade e análises técnicas.
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