As constantes altas dos combustíveis no Brasil pressionam a inflação e pesam no bolso

Na noite do último dia 10, uma quinta-feira quente, quem passava perto dos postos de gasolina de Campinas sabia que lá vinha mais um aumento dos combustíveis. Dessa vez, a dose foi forte: 18,8% de uma vez só. Mal virou o relógio entre os dias 10 e 11, e as bombas já registravam um preço médio de R$ 7,00 por litro. Esse valor era inimaginável pelos motoristas há cinco anos atrás.
Levantamento realizado pelo Notas Econômicas, com informações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), mostra que, em março de 2017, o preço médio do litro da gasolina em Campinas era de R$ 3,575. A variação era de R$ 3,848 nos postos mais caros e R$ 3,379 nos mais baratos. Em cinco anos, o valor médio da gasolina dobrou de preço na cidade.
Dá até saudades dos valores registrados nas bombas de 2017, mas a realidade agora é de preços de combustíveis mais elevados pressionando a inflação e provocando efeito em cascata a cada novo anúncio de aumento no preço da gasolina nas refinarias da Petrobras. Claro que, junto com o reajuste da gasolina, vem o do óleo diesel que afeta ainda mais a economia brasileira - já que no país a maioria dos produtos é transportada por via rodoviária.

Vários fatores influenciam para que o valor do petróleo suba no mercado internacional e provoque a elevação do custo da gasolina nos postos brasileiros. O fato mais recente é a Guerra na Ucrânia. A região onde ficam Rússia e Ucrânia é grande produtora de petróleo e, principalmente, de gás. O conflito fez o preço do barril subir e quem paga a conta é o consumidor.
Bomba-Relógio
O coordenador do curso de Ciências Econômicas da Facamp, José Augusto Ruas, diz que os impactos do último reajuste da Petrobras no preço dos combustíveis será sentido ao longo das próximas semanas e, mesmo, durante este ano todo. “O catalisador do reajuste de preços dos combustíveis anunciado na última semana pela Petrobras é a Guerra na Ucrânia. O conflito impulsionou o aumento nos preços internacionais e o repasse da estatal para os preços praticados nas refinarias no Brasil”, afirma.
O economista lembra que o preço do barril de petróleo vinha subindo desde o ano passado. Para ele, a política de paridade com o mercado internacional que foi instituída há alguns anos na Petrobras é uma bomba-relógio que explode cada vez que o preço do petróleo dispara no exterior. “Os preços dos derivados de petróleo em países que adotam a paridade sobem na mesma velocidade que a cotação do barril dispara no mercado internacional”, explica Ruas.
A situação fica ainda pior no Brasil que tem a logística de transporte de mercadorias, principalmente, pelo modal rodoviário. Qualquer alteração no custo dos combustíveis contamina toda a cadeia produtiva e de consumo. “Em países como o nosso, onde se transporta tudo por via rodoviária, qualquer aumento no valor dos combustíveis é injetar inflação direto na veia. Todos os produtos têm na composição de custo um peso grande dos combustíveis”, detalha o economista.
Doendo no bolso
Nas filas dos postos de gasolina, logo depois do anúncio da Petrobras do aumento da gasolina, os motoristas reclamavam muito de mais uma alta. Somava-se a esse fato, o estresse de enfrentar longas filas ou ter que percorrer várias revendas de combustíveis até encontrar um estabelecimento que ainda tivesse gasolina ou que não tinha se antecipado e elevado o preço mesmo antes do reajuste passar a vigorar.
“No dia do aumento, eu enfrentei fila nos postos. Fiz uma pequena peregrinação na região central até encontrar um posto que ainda estivesse vendendo gasolina e no preço antigo. Muitos donos de postos aproveitaram e subiram mesmo antes da meia-noite. Neste país, o consumidor sempre leva a pior. Está bem difícil viver, comer, se vestir, pagar aluguel, pagar água e luz. Cada vez que a gente vai no mercado as coisas estão mais caras”, reclama o motorista, José Ribeiro Lima.
Efeito imediato
A queixa do motorista José Ribeiro de Lima sobre a alta do custo dos alimentos nos mercados também é a reclamação da administradora Maria Ângela Silva. Mãe de dois meninos que estão em fase de crescimento, como ela mesma diz, Maria calcula que os gastos com mercado mais do que triplicaram nos dois últimos anos.
“Não sei que inflação é essa de só 10%. O meu custo com alimentação triplicou nos últimos dois anos. Com dois meninos super ativos, e em fase de crescimento, alimentação é muito importante na minha casa e tem um peso grande no orçamento da minha família. Procuro por ofertas, pesquiso em vários mercados, mas ainda assim está tudo muito caro. Já tive que cortar produtos da minha lista porque o preço estava absurdo”, diz a consumidora.
Ela conta que fez compras no mercado no dia seguinte ao aumento dos combustíveis e os preços já tinham sido reajustados. “É impossível que, no dia seguinte do aumento da gasolina e do diesel, todos os produtos já estejam mais caros. Os supermercados trabalham com estoque da maioria das mercadorias. O produto que eu comprei no dia seguinte ao aumento dos combustíveis tinha sido comprado pelo lojista antes da alta da gasolina. Mas os comerciantes fazem o repasse imediato. Pobre de nós consumidores”, critica Maria Ângela.
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